Os desconhecidos insubtanciais

     Numa noite rotineira e fatídica, alguém fora lembrado, não pela vida, mas pela morte. Imediatamente uma notícia reluz, surgida através de um teclado desgastado. Aquele objeto armazenava gritos de um desespero anônimo ou de uma prece atendida? Havia uma certeza anunciante que era como gotas de sangue que jorravam no chão da cidade de Porto Feliz. Ele era conhecido como um operário, foi dispensando como um parafuso que fora acometido por imprevisto e não tem mais utilidade.

     Todos os dias, ele doava sua vida para uma máquina. Era um trabalhador, esta seria a gratidão de servir a uma sistematização hierárquica, e a integralização do homem em sociedade. Sim! Mas não do homem como substantivo coletivo que engloba os seres humanos, é do homem insubstancial que é escravizado pelo próprio livre-arbítrio, condenado pela ignorância e desinformação. Visto como um produto descartável.

     O espelho nada refletia, era algo ainda indefinido, somente notava a face flácida e fatigada de um dia longo de trabalho. Os lábios proferiam uma reza baixa em que sibilava categoricamente aquilo que a memória conseguia relembrar. Não produzia efeito algum, no entanto, adormecia as dores incompreendidas que remoia lentamente o corpo. Quando que o processo acabaria? Estava sendo julgado pelos outros e por si próprio. Que estúpida imortalidade! O que resta? Não poderia ser apenas uma matéria de dois parágrafos, dentre tantas outras que afoga o mundo de fatos e boatos.

     Naquele instante a vida e a morte transformaram-se em um fato sem importância alguma. Pois, a mídia exclamava o seu mesmo ritmo denotativamente maquinista, o ato de noticiar era o bem maior. Estavam muitíssimo preocupados, mas esse sentimento impuro era somente alimentado pelo ato de noticiar. Os pratos vazios é a matéria básica que consumia os jornalistas, reportes, e todos daqueles que rotulam –se como noticiadores. Onde a pior notícia é aquela que situa-se na indiferença e  na  resignação causadas pelo hábito de viver do abuso degradante do mundo.